segunda-feira, 25 de abril de 2016

DEPOIS DO "FELIZES PARA SEMPRE"

"Tudo continua o mesmo, no entanto,
não era o mesmo e, pouco antes de dormir,
senti a mesma ansiedade que ainda sinto na véspera
de uma viagem longa e complicada." 

 

NÓS

Autor: David Nicholls
Editora: Intrínseca

Sinopse:

Certa noite, Douglas Petersen, um bioquímico de 54 anos apaixonado pela profissão, por organização e limpeza, é acordado por Connie, sua esposa há 25 anos, e ela lhe diz que quer o divórcio.
O momento não poderia ser pior. Com o objetivo de estimular os talentos artísticos do filho, Albie, que acabou de entrar para a faculdade de fotografia, Connie planejou uma viagem de um mês pela Europa, uma chance de conhecerem em família as grandes obras de arte do continente. Ela imagina se não seria o caso de desistirem da viagem. Douglas, porém, está secretamente convencido de que as férias vão reacender o romance no casamento e, quem sabe, também fortalecer os laços entre ele e o filho.
Com uma narrativa que intercala a odisseia da família pela Europa — das ruas de Amsterdã aos famosos museus de Paris, dos cafés de Veneza às praias da Barcelona — com flashbacks que revelam como Douglas e Connie se conheceram, se apaixonaram, superaram as dificuldades e, enfim, iniciaram a queda rumo ao fim do casamento, "Nós" é, acima de tudo, uma irresistível reflexão sobre a meia-idade, a criação dos filhos e sobre como sanar os danos que o tempo provoca nos relacionamentos. Sensível e divertido, com a sagacidade e a inteligência dos outros livros do autor, o romance analisa a intrincada relação entre razão e emoção.


"O problema de viver o momento é que o momento passa.
O impulso e a espontaneidade não levam em conta o longo prazo."

 

Opinião:

O bioquímico Douglas Petersen de 54 anos, pensava que seu casamento de 25 anos era normal e até feliz, e que iria envelhecer ao lado de sua mulher Connie. Mas no meio da noite ele se depara com o inesperado: Connie comunica que deseja se separar.
Como se a situação já não fosse ruim o suficiente, ele, a esposa e Albie – o filho adolescente recém aceito na faculdade – têm programada uma viagem de um mês pela Europa: o Grand Tour. Como tudo já estava acertado e pago para explorar o velho mundo, cujo maior objetivo é percorrer alguns museus, admirar determinadas obras de arte proporcionando ao filho certa bagagem cultural e artística e ajudar a introduzir Albie na vida adulta, Connie diz que não deveriam desistir da viagem e, inclusive, acha que devem deixar para acertar a separação na volta.
Para Douglas, a viagem era também uma oportunidade de se aproximar do filho adolescente, de quem se distanciou ao longo dos anos, e agora ele acha que seria também uma boa oportunidade de tentar fazer com que a mulher volte atrás na ideia da separação.
O planejamento rigoroso do itinerário montado por Douglas, é frustrado por brigas constantes dos três que se desentendem grande parte do tempo. A incômoda obsessão por controle e organização de Douglas e a falta de um vínculo verdadeiro entre ele e seu filho, torna as coisas ainda mais difíceis, o que leva a Albie fugir dos pais e decidir viajar por conta própria.
Seguindo pistas para descobrir o paradeiro do filho, Douglas cruza a Alemanha, Itália e Espanha enquanto faz um exame de consciência repensando suas atitudes e lembra do passado.
David Nicholls constrói uma história extremamente envolvente, sensível, intimista e duramente real, sobre a natureza dos relacionamentos familiares, revezando entre a saga europeia e a história da vida do casal, Douglas e Connie, desde quando se conheceram.
Presente e passado se intercalam na narrativa; enquanto acompanhamos o desenrolar da viagem e dos dilemas atuais do protagonista com relação à família e ao casamento, também percorremos o passado através de flashbacks nostálgicos e um tanto bem-humorados. Ficamos sabendo como foi o início do relacionamento com Connie – toda a delícia da paixão e do início do amor –, o casamento, a chegada de Albie e a relação pais e filhos. Inseridos nessa trajetória encontram-se os traumas e tristezas, as irritações, os silêncios. Os personagens da trama são bem reais e muito bem caracterizados. O protagonista, é compulsivo por limpeza e organização e apaixonado por seu trabalho científico. Mas Douglas também é louco pela esposa e sofre pelo relacionamento complicado que tem com o filho.
Connie, por sua vez, sempre foi um espírito mais livre, artístico, mais rebelde e naturalmente mais interessante. Albie é o típico filho adolescente que puxou o lado criativo da mãe. Justamente por isso, acaba sendo um tanto incompreendido pelo pai, e em contra partida não consegue aceitar a racionalidade e o excesso de controle de Douglas.
Acompanhar a jornada dos três pela Europa, em meio ao caos do iminente fim do casamento, e as dificuldades de relacionamento pai e filho, é um tanto angustiante, mas também interessante e por vezes até engraçado. Eles passam por experiências intensas e reveladoras, além de momentos muito importantes de autoconhecimento para todos.
A passagem por Paris, Amsterdã, Veneza, Barcelona e outros lugares é uma presente para quem curte histórias em que viagens exercem um papel importante. E o trajeto não vem desacompanhado, pois pegamos carona aos passeios a lugares famosos e aos museus onde também somos levados a mergulhar um pouquinho na história das obras de arte contempladas pelos personagens.
Emotivo, inteligente e com um desfecho que eu chamaria de perfeito, "Nós" é um livro sobre a natureza primordial de todo o ser humano. É sobre relacionamentos, amadurecer, casamento, amor, filhos, envelhecer, a implacabilidade do tempo e a morte.
Com um final surpreendente e maduro, em "Nós", David Nicholls nos fala sobre a vida.


"Simplesmente não é verdade que se pode alcançar qualquer coisa
desde que você ame muito essa coisa. Simplesmente não é assim."



O Autor:

David Nicholls nasceu em 1966, em Hampshire, Inglaterra. Formado em literatura e teatro inglês, optou pela carreira de ator e recebeu uma bolsa da American Musical and Dramatic Academy de Nova York. De volta a Londres, atuou em espetáculos teatrais no Battersea Arts Centre, The Finborough, West Yorkshire Playhouse e Birmingham Repertory Theatre. Entre uma peça e outra, em Londres, Nicholls trabalhava como vendedor da rede de livrarias Waterstone's, em Notting Hill. Após trabalhos freelance, conseguiu emprego como leitor de peças e pesquisador da BBC Radio Drama, o que o levou à edição de roteiros na London Week Television e na Tiger Aspect Productions. Nessa época, começou a escrever e adaptou a peça de Sam Shepard, "Simpatico", que se tornou um filme estrelado por Sharon Stone e Nick Nolte, em 1999. Ao longo de sua notável carreira de roteirista, recebeu duas indicações ao BAFTA.
O autor conquistou o sucesso mundial em 2009 com seu livro "Um dia", romance que vendeu mais de 400 mil exemplares só no Brasil, e ganhou adaptação para os cinemas, estrelada por Anne Hathaway. Outras obras do autor são os romances "O substituto" e "Resposta certa", também lançados no Brasil pela editora Intrínseca.

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